Luiza Lusvarghi

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O filme espanhol Visitante (Visitor, 2021), de Alberto Evangelio Ramos, narra a história de duas irmãs separadas por um terrível acidente na infância, ocasionado por um fenômeno metereológico, em que uma delas morre. Marga (Iria del Rio), a sobrevivente,  cresce, torna-se adulta, e em meio  a uma crise com o marido, vai visitar o pai que adoeceu inexplicavelmente, e passar uns dias na casa da vila onde cresceu. Um belo dia começa a receber sinais de uma estranha entidade, que aparentemente conhece detalhes da sua intimidade, e percebe que sua irmã pode estar viva.

A descoberta acaba levando Marga a descobrir um portal que funciona como um universo paralelo em que não somente a irmã que ela julgava morta está viva, mas em que ela existe com outra personalidade. Passado, presente e futuro existem simultaneamente, mas em dimensões diferentes. Esse é o fundamento por trás do conceito do Bloco universal, defendido pelo professor de filosofia do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), Bradford Skow. Essa percepção não é nova, e se encontra presente em outras obras de gênero. Essa é a maior dificuldade para o desenvolvimento desta trama em que a ficção científica, na verdade é uma estratégia narrativa que permite ao diretor explorar dramas conjugais, conflitos morais, histórias de amor mal resolvidas, um misto de ficção científica e melodrama. No entanto, o filme pouco se ocupa dessas questões, que poderiam enriquecer o roteiro, e sequer justifica a existência desse portal, acessado por um cubo que, aparentemente, veio do espaço sideral. Desta forma, o invasor alienígena (existe um?) é um desdobramento da personalidade da protagonista que a acompanha ao longo da vida, sem que ela se dê conta, e ainda assim, é uma alteridade.

Em meio a problemas de seu relacionamento tóxico com o marido, que se revela um stalker violento e obssessivo, Marga se reaproxima de um antigo colega de faculdade, e passa a ter um caso com ele. Surge a perspectiva de uma nova vida que se engendra, uma criança que vai nascer. Para satisfazer seus desejos, é necessário abrir mão de uma existência física, e essa renúncia adia a gratificação. Ali, cada personagem deseja o que não tem.  Visitante  funciona melhor quando aborda a realização dos desejos e acena com a possibilidade de ser humano poder controlar vida e morte. O filme assinala a estreia do diretor no formato longa-metragem, e teve premiére no ano passado no Festival de Sitges, o tradicional festival de cinema fantástico da Catalunha. Seu formato não agradou à crítica local justamente por trazer tantos ganchos possíveis de serem desenvolvidos, que não se consumam, sem se aprofundar em nenhuma possibilidade, o que compromete o desfecho aberto, que poderia ser um trunfo. No entanto, ainda assim, é um filme interessante, que, à semelhança do portal em que se enreda a protagonista, permite explorar novas possibilidades.

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