Luiza Lusvarghi

post-header
Cinema

Perfeição Insondável: Horror da Netflix traz (boa) influência de cinema independente

O filme estadunidense What Lies Below (2020), que em tradução livre seria algo como “o que está por trás”, e que ganhou o título no Brasil de Perfeição Insondável, é obra de horor que surpreende, assinada pelo escritor e diretor Braden R. Duemmler. Lançada em 2020, não conseguiu ser notada, mas acabou se tornando referência no catálogo da Netflix, lançada em junho, a princípio de forma quase  desapercebida. Filme com pegada de autor, homenageia o gênero em seu aspecto mais trash, no que diz respeito à produção, mas investe na associação Horror e Ficção Científica consagrada por Hollywood em suas produções B. Tudo isso sem cair na misoginia habitual do slasher, com atuações convincentes de Ema Horvath, Mena Suvari (American Pie), Trey Tucker e Haskiri Velazquez. A história é simples. A adolescente Libby (Horvath)  volta pra casa em suas férias de verão e encontra a mãe Michelle (Suvari) com um namorado bonitão e absurdamente perfeito. Educado, sensível, as aparições de John (Tucker) se assemelham a publicidades de roupa intíma para homens, deixando o corpo escultural do ator em evidência e perturbando profundamente a adolescente. O filme explora essa sensualidade das imagens sem jamais cair na vulgaridade e ao mesmo tempo sem exibir nenhuma cena intensa de sexo – tudo se resume a forma como a câmera “narra” a história.

Libby se sente incomodada com o namorado da mãe, que faz questão de mostrar seu interesse por ela, e começa a questionar seu comportamento. Michelle, por sua vez, entra numa relação angustiante com sua filha adolescente, que não quer aceitar o namorado e a sexualidade da mãe. Parece perfeito demais, mas não é. John tem um comportamento estranho e obsessivo, e não parece realmente ser humano. A cena em que ele sai para um passeio de barco com a futura enteada, é antológica. Quando Libby menstrua, o rapaz parece muito mais interessado no sangue da garota do que em qualquer outro tipo de interação. Nada é tão simples, nem é o que parece ser.

Aos poucos fica cada vez mais evidente que o rapaz não é humano, e que transformou o porão da casa de Michelle em um laboratório para estranhos experimentos. Trata-se de um alienígena que explora a Terra buscando novas formas de vida e a reprodução de sua espécie ameaçada. Sua intimidade com espécimes como a lamprea sugere que sua forma natural tem pouco a ver com o bonitão que está em cena, mas o diretor trabalha com sugestões e associações, fugindo de monstros e gadgets muito óbvios. O exoesqueleto que abriga John é exatamente igual aos de sua espécie.  A cena final, em que Michelle percebe a verdade, tarde demais, e que Libby é capturada por John, é absolutamente surreal. Vemos a garota ser colocada em um casulo de aspecto repulsivo enquanto observa sua melhor amiga flutuando morta em um tanque. A cena final, entretanto, mostra Libby saindo da expressão de pavor e sorrindo. Aparentemente, ela descobre que vai passar por uma metamorfose. e que John e seus amigos tem outros planos para ela.

 

luizalusvarghi

Recommended Reads