Luiza Lusvarghi

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A primeira comédia de Leonardo DiCaprio é o grande sucesso do final do ano na Netflix. Don´t look up,  literalmente Não olhe para cima, é uma sátira sobre o fim do mundo que tem como protagonistas dois obscuros personagens, um desconhecido cientista de Michigan, o dr. Randall Mindy, interpretado com maestria por Leonardo DiCaprio,  em excelente performance, e a estudante Phd Kate Dibiasky, vivida por Jennifer Lawrence. A dupla é acompanhada por coadjuvantes do calibre de Meryl Streep, Cate Blanchet, Timothée Chalamet, Chris Evans, Jonah Hill, e até a cantora Ariana Grande no papel de uma pop star delirante, Riley Bina. O icônico Ron Perlman, nosso eterno Hellboy, faz um ícone militar que deixaria qualquer bolsonarista em estado de êxtase.

Mindy e Dibiasky descobrem que um gigantesco cometa se avizinha da Terra, e vai destruir o planeta se não forem tomadas medidas urgentes para redirecionar sua rota.

Convictos de que devem se unir para lutar contra essa ameaça, a dupla tenta falar com o governo, com a mídia, e até com empresários. Surpreendentemente, ninguém parece se incomodar efetivamente com a tragédia que se avizinha. O único aliado de Mundy e Dibiasky é o dr Oglethorpe (Rob Morgan). Surgem campanhas contra e a favor do cometa, o que permite comparações análogas às campanhas negacionistas sobre a existência da Covid e a necessidade da vacina, e, naturalmente, sobre o impacto das mudanças climáticas na qualidade de vida do planeta.

A mídia só se interessa por noticiários leves, de entretenimento. Para que falar de morte agora? A melhor parte do filme são os diálogos entre a dupla Mindy-Dibiasky e os jornalistas representados por Brie Evantee (Blanchet) e seu cínico parceiro de bancada Jack Bremmer  (Tyler Perry). Essa crítica sobre o descaso da mídia e dos governantes, no entanto, acaba se perdendo na maior parte do filme por conta da direção de atores e de um roteiro desalinhado.

Streep faz uma presidenta dos EUA totalmente cruel e chinfrim, Janie Orlean, um Trump de saias, exalando tanta canastrice que nos faz esquecer todos os seus três merecidos Oscares, mesmo ancorada pelo sempre pontual Jonah Hill  como seu filho e braço direito. Blanchet parece ter tomado Xanax – o calmante favorito de Mindy – e em suas entradas em cena está sempre dois uísques abaixo, como diria o poeta Vinícius de Moraes, que também se dedicou à crítica de cinema parte de sua vida.

Sátira, paródia, comédia de humor negro? Então, quando você não consegue se decidir sobre que rumo tomar, fica complicado dirigir tantos egos em cena. Alguns acertam no tom, outros extrapolam. Ao final fica difícil digerir tudo e entender exatamente o que está acontecendo – o filme tem dois desfechos aparentemente contraditórios entre o início e o final dos créditos. Ainda assim vale muito a pena ver só para se deliciar com a interpretação maravilhosa de Mindy-DiCaprio, refletir sobre o futuro da humanidade, e tentar adivinhar quem é quem dentre os famosos, como o sensível adolescente Yule de Chalamet.

A ideia é fascinante, faltou alguma coisa aqui e ali, e sem dúvida, a crítica que ele contém é potente. Vivemos todos sob essa grande ameaça global – o ser humano.Ainda assim, a comédia merece a popularidade que vem conquistando, e que se expressa nos posts das redes sociais, pois o tema é absolutamente atual, é divertida, e a associação com governantes brasileiros e sua política genocida é inevitável. Além disso, representa uma consagração de novas janelas de exibição como fator de expansão de fruição da obra. O filme foi primeiro para os cinemas, e no dia 24 de Dezembro estreou na plataforma da Netflix, e foi a partir daí que bombou nas redes.

Imagens: Niko Tavernise/Netflix

luizalusvarghi

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