Luiza Lusvarghi

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Cinema

Evelyn, Deirdre e Joy: o ousado protagonismo feminino de Tudo em todo lugar

A overdose de imagens na pós-produção de um roteiro que joga seus personagens em diferentes metaversos para deslocá-los de sua vidinha rotineira rumo a um mundo de possibilidades ao qual poucos cidadãos comuns têm acesso não facilita em nada a fruição do filme que literalmente roubou a cena do Oscar 2023.  Sim, essas arestas poderiam ser aparadas. Mas nada disso tira o mérito do filme ao transformar suas protagonistas femininas em heroínas intrépidas de suas próprias vidas. Este detalhe, aliado ao carisma das três personagens mulheres, Evelyn Wang (Michelle Yeoh), Deirdre Beaubierdre (Jamie Lee Curtis) e Joy Wang (Stephanie Hsu), fazem de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, da dupla de Daniels, não apenas um filme que desafia os conceitos de gênero (Ficção Científica), de roteiro, e até mesmo de filme de Oscar, ao colocar no centro do mundo, embalados por pirotecnias do mundo virtual dos games, pessoas comuns e totalmente marginalizadas da própria sociedade estadunidense.

O casal de imigrantes chineses vivido por Evelyn Wang e seu simplório e apaixonado marido, Waymond (o eterno ex-Goonnie Ke Huy Quan), donos de uma lavanderia que cai nas malhas da poderosa e implacável Receita Federal, que já levou à prisão desde Al Capone até Wesley Snipes, inspira ternura e acolhimento.

Nada disso, inicialmente, comove a irredutível funcionária Deirdre Beaubierdre , que deu à sempre subestimada atriz Jamie Lee Curtis a oportunidade de colocar em cena uma mulher que se orgulha de sua mediocridade e miséria afetiva, se transforma numa supervilã de comics em realidades alternativas e acaba numa sessão de conversas de amigas (women talking) com dedos de salsicha e pijamas falando de sua própria crise conjugal e ensaiando um namoro.  

Para completar o time de mulheres em conflitos temos por fim (Jobu Tupaki) Joy, filha de Evelyn, que sofre para que a família aceite o seu relacionamento homossexual. Joy se incomoda em particular com a rejeição de sua mãe, que usa o próprio pai, com quem sempre teve um relacionamento complicado, para justificar a exclusão de sua filha e sua namorada das festas familiares.

Em uma explosão de cores e de vitalidade, todos esses mundos se articulam para um final feliz para o casal Wang, Joy e sua namorada, e para toda a família, que, ao final, inclui a super Deirdre. Tudo é possível, basta acreditar e querer muito. O happy end chega, e nesse sentido, tem tudo para agradar, ainda que o percurso seja dos mais tortuosos.

luizalusvarghi

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